domingo, fevereiro 13, 2005

... Posted by Hello

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Triste fim de dia...

Estava eu a sair do Centro, quando entra uma colega que me diz:
"Tenho más noticias"
Calculando o que seria perguntei:
"Quem é que morreu?"
"A "Rita" e o Russo"
Por muito que esteja à espera, nunca estou preparada para estas noticias!
A "Rita", 26 anos, mãe de 3 filhos, há muito que traficava no Casal Ventoso. Dificil de contactar, negava precisar de ajuda. Mas foi na passada semana que resolveu pedi-la e já foi tarde, faleceu de ataque cardíaco com uma dose excessiva de cocaína. Provavelmente o desespero a levou a tal acto.
O "Russo", 30 anos, conheci há 2 anos e estava agora numa fase "avançada" do tratamento. Mantinha-se sem consumos há algum tempo. Falei com ele na passada semana e estava todo contente por ter conseguido chegar ali, disse-me "está a ver, foi dificil acordar do pesadelo mas com a vossa ajuda consegui!" Respondi que foi ele que fez por isso e que agora era só "pra cima" o caminho.
Não pensei que estava tão perto o fim.
Que fim de dia triste o de hoje!

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Será solução?

Mais um "daqueles" casos bicudos.
Encontrado pela equipa na rua, o "Neve".
Quando o entrevistei para triagem do caso, fiquei sem saber o que fazer.
Não consumia drogas duras, apenas fumava umas ganzas.
É da Guiné, tem 19 anos, chegou a Portugal há 6 meses, mal fala português, não sabe ler nem escrever, não tem qualquer tipo de documento e dorme na rua. Mas sorriu durante a entrevista.
Resolvi adoptar um meio mais informal e pedi um lanche para ele. Estava esfomeado.
Fomos depois para a sala de estar. Conta que perdeu a familia na guerra, mostra as cicatrizes de estilhaços de bomba que tem nas pernas. Um "padrinho" pagou a viagem para aqui.
Depois de fazer vários contactos, de falar com as entidades responsáveis, percebi que a hipóteses que o "Neve" tinha era voltar para a Guiné, pois ilegal em Portugal não terá futuro além de arrumar carros.
Será solução repatriar um jovem para um país destruido pela guerra, onde não tem família, nem segundo o próprio, esperança?



Alegria e Movimento! Posted by Hello
Tempos de alegria difarçada...
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( _ )
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segunda-feira, fevereiro 07, 2005


Lar doce Lar Posted by Hello

Hoje

Hoje estou em casa.
Não me apetece fazer nada.
E sei porquê.
Porque faço muito nos dias que saio de casa!


Acabar com a ressaca... Posted by Hello

Será que..?

Foi quando começou a intervenção no Itdt, um bairro lisboeta, que conheci a "Sofia".
Era uma jovem de 26 anos, consumidora de heroína e cocaína injectada.
Encontrava-se bastante debilitada mas, apesar de dormir na rua, todos os dias tomava banho num espaço ali perto.
Comecei o meu trabalho (com a minha equipa), as tentativas de a levar para tratamento.
A "Sofia" tinha uma história de vida que me tocou.
Estudou até ao 12º ano, altura em que conhece um rapaz e através dele o mundo da droga.
Tem uma filha com ele. Ao fim de um ano começa a escalada da degradação, sai de casa, abandonando a filha ao cuidado dos seus pais. Dizia ela que assim a filha estava melhor, longe da desgraça da mãe.
A "Sofia" inicia programa de metadona, mas pouco tempo se aguentou, pois o "patrão" não a deixava ir às tomas de metadona.
Certo dia há uma grande cena de pancadaria, chovem pedras, sangue, facas... A "Sofia" vem a correr ter comigo e diz-me "vão-se embora que isto não acaba bem", sigo o seu conselho, enquanto entro no carro, várias pedras caem sobre ele.
Esta cenário várias vezes se repetiu e era ela a primeira a vir avisar-nos para irmos embora.
Quando havia marcações para levar utentes para tratamento, a "Sofia" que estava marcada, avisava que não iria poder sair dali, mas ajudava e convencia sempre alguém para ir no seu lugar, chegando muitas vezes a tirar a ressaca a outros, para que viessem connosco para tratamento.
O tempo foi passando e certo dia a "Sofia" estava no seu limite.
Conseguimos levá-la para o Hospital. Soube no dia seguinte que havia sido transferida para a Alemanha a pedido da família! Fiquei surpresa, onde estava a familia?
Passaram 6 meses e volto a ver a Sofia perto da zona de tráfico e consumo. Dirigi-me a ela, estava pouco mais gorda, mas sem feridas, tinha vindo passar o Natal e resolveu passar por ali para matar saudades!!!
Claro que o matar saudades a perdeu mais uma vez por ali.
Pouco tempo depois estava de volta ao tráfico e ao consumo.
Assisti a uma monumental tareia que ela levou de um traficante sem nada poder fazer.
Consegui mais uma vez leva-la para tomar metadona, mas foi apenas nesse dia.
Estava a assistir à degradação total. Todos os dias me questionava o que mais poderia fazer por ela, conversei várias vezes com outros técnicos acerca.
A "Sofia" chegou ao ponto de não se levantar do mesmo sitio, fazendo as necessidades no mesmo local onde dormia. Eram os outros que lhe tiravam a ressaca. Mesmo assim não queria ajuda.
Mas a insistência da equipa conseguiu levá-la ao hospital onde ficou internada. O prognóstico era muito reservado e a médica disse-me para não ter esperanças, conversei com a médica que seria uma necessidade premente a Sofia não sentir o sindrome de abstinência.
Nos dois dias seguintes fui visitá-la ao hospital, chorava de dores, a ressaca estava a destruí-la. Pedi mais uma vez à médica para pedir metadona aos responsáveis, o que não aconteceu.
Ao terceiro dia recebo uma chamada do hospital, a "Sofia" que mal se aguentava de pé, tinha fugido do hospital.
Fui para o local onde ela dormia e lá estava ela a "dar um caldo", com a ajuda de outros.
Pensei e comentei com os meus colegas, "hoje não saio daqui sem ela". Fiz montes de chamadas até encontrar uma solução. Como ela recusava ir para o hospital, consegui levá-la para um centro, com o objectivo de começar a tomar metadona e ir depois para o hospital, sem ressaca.
Assim foi, fui de taxi com ela até ao Centro. A médica que a observou disse ser quase impossível ela ainda estar viva. Pesava 20 kg, estava muito ferida.
Esteve hospitalizada 2 meses, visitei-a várias vezes até ficar sem visitas. Faleceu em Outubro.
Ainda hoje quando passo perto do hospital onde ela faleceu, penso: será que não podía ter feito mais por ela? Será que ....?

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